Já notaram que todo filme-catástrofe começa um cientista alertando a Humanidade de algum perigo e sendo desacreditado? No caso das mudanças climáticas, a vida imitou a arte: os interesses econômicos falaram mais alto e conseguiram abafar a voz da razão. Aí foi a própria Natureza quem decidiu falar grosso, para não deixar dúvidas. O verão de 2019 no Hemisfério Norte foi de lascar – chegou a fazer inacreditáveis 34,8°C no Círculo Polar Ártico. E o mundo foi às ruas gritar junto com ela, seguindo uma jovem sueca de 16 anos, Greta Thunberg, fundadora do movimento Fridays For Future.
A Marcha Global Pelo Clima desta sexta-feira foi a maior manifestação ambiental da História, reunindo cerca de 4 milhões de pessoas ao redor do planeta. Calcula-se que só em Nova York, nos EUA, onde fica a sede da ONU, 250 mil pessoas tenham participado da passeata. Entre elas, a própria Greta e representantes da Aliança Global de Comunidades Territoriais, que mostravam, mais uma vez, que os povos indígenas querem ter mais voz ativa nas decisões que movem o mundo.
Não é hora para meias-palavras: ou tomamos medidas realmente concretas contra as mudanças climáticas agora ou seremos obrigados a nos preparar para o pior. Um grupo de cientistas franceses divulgou um relatório esta semana – que servirá de base para o próximo relatório do IPCC da ONU – que aponta que a temperatura global pode aumentar 7° C até o fim do século; a previsão mais pessimista era de 4,8° C. Um novo estudo da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC) alerta que o número de pessoas que necessitam de assistência humanitária anualmente por causa de desastres relacionados ao clima pode dobrar até 2050, ultrapassando 200 milhões por ano – hoje, são cerca de 108 milhões.
“É preciso fazer as pessoas entenderem que há uma emergência climática hoje, que o problema da mudança climática é de hoje, que a saúde pública está ameaçada hoje, que o mar está subindo hoje, que as temperaturas já estão provocando problemas muito graves”, diz o secretário-geral da ONU, António Guterres. Na segunda (23) será realizada a Climate Action Summit 2019. Nesse dia, os líderes mundiais serão pressionados a apresentar planos mais exigentes para a redução das emissões. A pressão vai continuar até a COP-25, em dezembro, em Santiago, no Chile.
Por isso, as históricas manifestações do dia 20 foram apenas o pontapé inicial. Estão programados mais de 5.225 atos em 156 países ao longo da semana que vem. Para a próxima sexta-feira (27) está marcada uma greve mundial pelo clima, com a participação não só de estudantes, mas também de milhares de entidades da sociedade civil: a plataforma 350.org diz que mais de 73 sindicatos, 820 organizações e 2.500 empresas já manifestaram seu apoio.
O líder espiritual dos budistas tibetanos, Dalai Lama, publicou uma mensagem no seu Twitter apoiando as manifestações. “Esta é provavelmente a geração mais jovem que tem sérias preocupações com a crise climática e seus efeitos no meio ambiente. Eles estão sendo muito realistas sobre o futuro. Eles veem que precisamos ouvir os cientistas. Nós devemos encorajá-los”. Sábias palavras. Afinal, não é o futuro que está em jogo, mas o presente.