por Malu Ribeiro*
O dia da árvore, data escolhida por anteceder o início da primavera no hemisfério sul, pode ser celebrado nesta Década da Restauração dos Ecossistemas, declarada pela Organização das Nações Unidas como um chamamento para a emergência climática e uma oportunidade para que possamos reconectar o nosso país à sua identidade. O Brasil é a única nação do mundo com nome de árvore e tem tudo para ser reconhecida como potencia verde, democrática, próspera e sustentável.
Ao reafirmar o nome do nosso país, neste dia da árvore, temos que nos comprometer com o fim do desmatamento, com a restauração das florestas e ecossistemas, com a descarbonização da economia e com a equidade socioambiental. O pau-brasil, espécie da Mata Atlântica símbolo da nossa identidade, ainda figura na lista crítica de extinção. Testemunhas de séculos de degradação, as árvores da Mata Atlântica por sua resiliência e generosidade nos mostram que um novo modelo de desenvolvimento que, priorize o meio ambiente, é o caminho que precisamos trilhar.
A Mata Atlântica se estende por cerca de 15% do território nacional, em 17 estados, e é o lar de 72% dos brasileiros. Concentra 70% do PIB nacional e garante serviços ambientais essenciais à vida, como o abastecimento de água, a regulação do clima, a agricultura, pesca, energia elétrica, turismo e saúde. Apesar de ser o único bioma brasileiro a contar com uma lei especial para sua proteção e uso sustentável (Lei no. 11.428/2006) restam apenas 12,4% da floresta original.
Preservar e restaurar a Mata Atlântica é uma missão urgente. Ao longo de 36 anos de atuação, a Fundação SOS Mata Atlântica plantou mais de 42 milhões de árvores, em 9 dos 17 estados do bioma. Mas, ainda é preciso fazer muito mais. Restaurar a Mata Atlântica é uma contribuição para o Brasil cumprir a meta do Acordo de Paris e neutralizar as emissões da agropecuária no bioma até 2042, com a restauração de 15 milhões de hectares de florestas e a geração de empregos verdes.
É preciso fazer valer a Lei da Mata Atlântica, erradicar o desmatamento, reforçar a fiscalização, incentivar a conservação e a restauração por meio de instrumentos econômicos, de áreas protegidas e de educação ambiental. É urgente recuperar quatro milhões de hectares em Áreas de Preservação Permanente (APP) definidas no Código Florestal como especiais por serem responsáveis em garantir a perenidade dos rios e nascentes de água e proteger a população mais vulnerável, as cidades e o campo, de desastres potencializados pela mudança do clima.
Declarada patrimônio nacional na Constituição de 1988, a Mata Atlântica reúne 15, 7 mil espécies de plantas e dentre elas, mais de uma centena de árvores. Essas árvores são muito poderosas. Abrigam a biodiversidade, nos proporcionam alimento, água, conforto, bem-estar. Formam paisagens exuberantes e são reconhecidamente mantenedoras da fertilidade do solo, da qualidade do ar e da água. Fazem parte do nosso dia a dia, da nossa história e cultura, estão nos nomes de cidades, ruas, nos poemas e musicas, em obras de arte e cartões postais.
Pau-brasil, Araucária, Jacarandá, Jequitibá, Pitanga, Jabuticaba, Cambuci, Jatobá, Gabiroba, Cambucá, Jussara, Araça, Uvaia. Escolha as suas e junte-se a nós. Plante árvores e, nesta eleição, vote em candidatos e candidatas comprometidos com a defesa da Mata Atlântica e do meio ambiente.
Escolha candidaturas que nos ajudem no Congresso Nacional a aprovar leis que incentivem a restauração, que garantam recursos financeiros, conhecimento e tecnologia para que possamos fazer do Dia da Árvore muito mais que uma data no calendário.
Está nas nossas mãos a oportunidade de reconstruir uma nação mais verde e azul, justa, sustentável e próspera.
*Malu Ribeiro é diretora de Políticas Públicas e Advocacy da Fundação SOS Mata Atlântica, especialista da causa Água Limpa e do Projeto Observando os Rios. Bacharel em Comunicação Social, ela é jornalista com atuação em políticas públicas, gestão ambiental e de recursos hídricos. Ela também é editora e coautora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, voltada à articulação entre organizações, redes e fóruns de água.