Partiu o comboio movido a energia emergente. A locomotiva é a China, mas os países em desenvolvimento em geral estão gerando cada vez mais eletricidade a partir do sol e do vento. Em 2016, foram mais 34 GW de eletricidade por usinas solares, em 71 nações emergentes. A capacidade de geração de energia solar no mundo aumentou 54% em um ano e mais do que triplicou em três anos. Em Cabo Verde se fala a mesma língua daqui. Mas enquanto lá se investe pesado no vento, para o país ser movido 100% a energia limpa e renovável até 2025, o Brasil escorrega no português e subsidia a indústria do petróleo, com a aprovação da Medida Provisória 795/2017 – a chamada MP do Trilhão. E isso contra a vontade da população: em recente pesquisa, 90% dos entrevistados se disseram favoráveis a pisar no freio dos combustíveis fósseis para ajudar a combater as mudanças climáticas.
Os cabo-verdianos começam a pôr em prática as metas que estabeleceram quando assinaram o Acordo de Paris, enquanto já começamos a descumprir as nossas. Mesmo sendo um dos menores países do mundo, Cabo Verde consome muita energia. Por isso, o programa também inclui medidas para evitar o desperdício. Venta muito no ensolarado arquipélago africano, que é um dos mais prejudicados pelas mudanças no clima. Combustível limpo não lhe falta.
Nem ao Brasil, que no entanto prefere continuar investindo em combustíveis fósseis. Até foram anunciados novos leilões para o setor para abril do ano que vem, mas este ano o governo rescindiu contratos para a construção de 16 parques eólicos e nove solares. Isso vai representar 557 MW a menos de energia limpa. O governo falou em economia, mas manteve contratos para a construção de novas termelétricas, como a de Peruíbe, em São Paulo. Pior que não pegamos a maria-fumaça por engano.
O consumo de carvão no mundo vem caindo há dois anos, principalmente por causa da China, dos Estados Unidos – apesar das bravatas do presidente Trump – e da Europa. E os chineses sequer precisaram desacelerar seu desenvolvimento para tomar este outro rumo: o país deve crescer mais este ano do que havia previsto o Banco Mundial. Em tese o Brasil não está tão mal: é um dos 14 países (entre eles Chile, Jordânia, México e Paquistão) que dobraram sua capacidade fotovoltaica instalada em 2016. Mas além de ainda estar muito aquém de sua capacidade, o problema, tanto no caso das usinas solares como nos parques eólicos, é a falta de linhas de transmissão. Fizeram o trem, mas esqueceram dos trilhos.
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