Semana passada caiu uma enxurrada de notícias preocupantes. A mais assustadora se refere à velocidade em que o nível do mar vem subindo. E que nem se as atuais metas do Acordo de Paris forem cumpridas à risca, poderemos evitar essa catástrofe. Mas os ajustes necessários esbarram em entraves, digamos, diplomáticos que impedem, por exemplo, que atividades altamente poluidoras, como a aviação comercial e a navegação de carga e transporte, sejam incluídas no tratado do clima.
Como as emissões de gases do efeito estufa produzido por essas empresas acontecem em águas ou espaço aéreo internacionais, não entram na conta de nenhum país. Fora que a maioria das empresas são multinacionais e as bandeiras dos navios não representam, necessariamente, os países a que de fato eles pertencem – muitas embarcações são registradas em paraísos fiscais como Panamá e na Libéria. E, portanto, não estão presentes em nenhuma das metas de redução acordadas por seus signatários.
Em abril, a Organização Internacional Marítima (IMO) pretende lançar sua própria estratégia de controle de emissões. Há quem o considere o acordo climático do ano. Afinal, a previsão era a de que as taxas de crescimento das emissões da indústria da marinha mercante deveriam crescer entre 50% e 250% até 2050. Mas o pensamento é de longo prazo e as medidas, consideradas paliativas.
A aviação também fez suas próprias promessas: em 2016, 191 países se comprometeram a reduzir as emissões de CO2 do setor aéreo, mas divididas em duas vezes: a ideia é chegar em 2035 com os mesmos os níveis de 2020; e em 2050, com os até os de 2005. A Organização Internacional de Aviação Civil (Icao), estimou em 3,7 bilhões o total de viajantes em 2016. Este número só cresce desde 2009. Até 2035, a Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata) prevê um aumento para 7,2 bilhões. E aviões não emitem apenas CO2, como também óxido de nitrogênio, vapor d’água e causa trilhas de condensação e alterações das nuvens, que ajuda a bagunçar ainda mais o clima no planeta.
Segundo um estudo liderado por cientistas do Instituto Postdam, na Alemanha, e publicado na revista Nature Communications, a elevação média do nível dos oceanos será de 70 centímetros a 1,2 metro próximos 200 anos, caso seja cumprida a meta do Acordo de Paris. Mas essa estimativa só vale caso as médias de temperatura globais atinjam o seu pico até 2020 e comecem a cair logo em seguida. Depois deste prazo, cada cinco anos de atraso vão corresponder a 20 centímetros a mais no nível dos oceanos.
No artigo, os pesquisadores também concluem que não há mais a possibilidade de uma estabilização nesse nível, mesmo que as metas do tratado sejam atingidas com rapidez. “As mudanças climáticas provocadas pelo homem já deixaram pré-programada uma certa quantidade de elevação do nível dos oceanos para os próximos século e, com isso, pode parecer para alguns que nossas ações atuais não fazem grande diferença. Mas nosso estudo mostra como essa percepção é errada”, disse o autor principal da pesquisa, Matthias Mengel, do Instituto Postdam. Segundo Mengel, a elevação do nível dos mares é causada pelo aquecimento e a consequente expansão da água do mar, assim como pelo derretimento dos glaciares e do gelo que cobre a Groenlândia e a Antártica.
E o Brasil nessa história, como fica? Bom, para começar, aqui barcos, aviões e helicópteros sequer pagam o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). E, sofrendo o forte lobby da mineradora Vale, que escoa boa parte de sua produção por via marinha, o governo tem feito de tudo para que a conta o acordo da Organização Internacional Marítima não seja paga pelas empresas. Seguimos à toda, na contramão: não vamos esquecer dos generosos subsídios que o governo deu à indústria dos combustíveis fósseis. Já entendeu quem é que vai pagar por isso?
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