O glifosato conseguiu unir social-democratas, liberais e extrema-direita na Áustria: o parlamento local aprovou em 2 de julho uma lei que proíbe qualquer tipo de uso do herbicida. É o primeiro país da Europa a bani-lo totalmente. Em 2015 a Organização Mundial da Saúde alertava que o agrotóxico poderia causar câncer. A fabricante Monsanto foi condenada em maio pela Justiça da Califórnia a pagar uma indenização de US$ 2 bilhões a um casal de idosos.
Mas o prejuízo é geral: além de causar mal à nossa saúde, o glifosato também está matando as abelhas. O produto enfraquece o sistema imunológico desses insetos polinizadores, dos quais dependem 73% das espécies vegetais do planeta. Só que enquanto os austríacos tomam suas providências, nós tomamos mais veneno. Além de o glifosato ser o agrotóxico mais usado no Brasil, nunca se liberou tantos produtos novos no país em tão pouco tempo. De janeiro para cá, foram 239. Só no dia 24 de junho foram 42. A gente ainda paga por isso: os incentivos fiscais para agrotóxicos podem passar de R$ 14 bilhões por ano.
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Entre dezembro de 2018 e março de 2019 mais de meio bilhão de abelhas foram encontradas mortas em diversas regiões do país. Mesmo que não nos mate de câncer todo esse veneno pode nos matar de fome: mais da metade as 141 espécies de plantas cultivadas no Brasil precisa de insetos polinizadores para se reproduzir. Pode matar o agronegócio também: Mercosul e União Europeia estão firmando um acordo comercial, que depende de condicionantes sanitários e ambientais para ser implantado definitivamente; e só entre os produtos liberados este ano, 43% são altamente ou extremamente tóxicos e 31% deles, proibidos na UE. O europeu não está disposto a importar nosso veneno.
Há 538 novos pedidos de registro em andamento. Governo e ruralistas argumentam que o excesso de zelo e de burocracia estava emperrando a liberação de novos agrotóxicos. Então a gente vai dar uma sugestão para agilizar esse andamento e evitar imbróglios com nossos parceiros comerciais: que tal riscar logo da lista os produtos proibidos na Europa? Depois a gente parte para a aprovação da Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA).
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