O desenvolvimento sustentável já está gerando até Nobel de Economia. O prêmio deste ano foi para os americanos William Nordhaus e Paul Romer, por seus estudos sobre a interação entre o clima, as inovações tecnológicas, a economia e as políticas públicas. O mundo tem se debruçado mais sobre pesquisas relacionadas à área; e não à toa, já que corremos contra o tempo. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU anunciou no início do mês que limitar o aquecimento global em 1,5 °C, conforme dita o Acordo de Paris, exigirá “mudanças de longo alcance e sem precedentes” no comportamento humano. Ou seja, é algo que diz respeito a governos e instituições, mas também fala diretamente a nós, cidadãos.
É preciso renovar a economia mundial e está cada vez mais claro que uma guinada para o verde seria saudável não só para o meio ambiente, como também para as próprias finanças globais. Desastres relacionados ao clima causaram prejuízos de quase US$ 2,2 trilhões em 20 anos, segundo um estudo divulgado na semana passada pelo Escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Redução de Riscos de Desastres, em colaboração com a Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. No Brasil, as perdas chegaram a US$ 15,7 bilhões em 20 anos. Em 2004, por exemplo, o custo chegou a 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
A recém-divulgada pesquisa “A importância econômica das Unidades de Conservação brasileiras”, feita pela Conservação Internacional (CI-Brasil), em parceria com as universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), aponta que o país poderia faturar mais de R$ 20 bilhões por ano com a exploração sustentável dessas áreas. Segundo estudos divulgados pela Comissão Global sobre Economia e Clima (The Global Commission on the Economy and Climate), uma organização internacional independente, 23 países já conseguem aliar crescimento econômico com redução de emissões de carbono. Entre estes, estão os Estados Unidos. O presidente Donald Trump pode ter saído do Acordo de Paris, mas o país permanece no tratado, representado por empresas e governos estaduais e municipais que continuam a seguir suas regras. A lição é clara e pode ser seguida por nós: ações coletivas e individuais podem reduzir os danos causados por políticas de Estado equivocadas.
Somadas, as Unidades de Conservação (UCs) correspondem a cerca de 20% do território nacional continental e 24% do território marinho. O estudo do CI-Brasil, da UFRJ e da UFRRJ é o mais completo já feito sobre o assunto e foi apoiado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, pela Fundação SOS Mata Atlântica, pelo Instituto Semeia, pela WWF-Brasil, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), pelo Ministério do Meio Ambiente, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). Pela primeira vez, por exemplo, a atividade pesqueira entrou nas contas, podendo render até R$ 167 milhões anuais. A exploração sustentável de madeira pode somar até R$ 658 milhões anuais, mas é possível ganhar dinheiro mesmo sem derrubar nenhuma árvore: o valor do estoque de carbono conservado pode chegar a R$ 7,8 bilhões por ano.
Segundo dados da Comissão Global sobre Economia e Clima, uma reviravolta ousada no modelo econômico mundial renderia um lucro de US $ 26 trilhões até 2030. Em 2017, os desastres climáticos e relacionados ao clima foram responsáveis por milhares de mortes e perdas de US$ 320 bilhões. Entre as prioridades sugeridas para os próximos 2, 3 anos estão a implementação da precificação de carbono e a remoção dos subsídios aos combustíveis fósseis. Só essas medidas poderiam gerar mais de US $ 2,8 trilhões à economia mundial em 2030, o equivalente ao PIB da Índia hoje. E de acordo com um relatório divulgado em maio pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), as medidas para limitar o aquecimento resultarão na criação 24 milhões de novos empregos sustentáveis, que compensarão uma perda estimada de 6 milhões de vagas na economia movida a carbono.
Quando ratificou o Acordo de Paris, em 2016, o Brasil se comprometeu a cumprir uma série de metas para reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa. Entre elas, estavam ampliar o uso de fontes alternativas de energia e restaurar, ou reflorestar, 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Mas continuamos inadimplentes. Porém, um estudo inédito do Instituto Energia e Meio Ambiente (Iema) aponta que é possível cumprir as duas metas simultaneamente. Segundo o relatório “Florestas energéticas”, o Brasil tem potencial para gerar 11,6 GW por ano — o equivalente a mais de duas hidrelétricas do tamanho de Belo Monte — a partir da biomassa de árvores plantadas, uma fonte renovável. Segundo projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), até 2032, o consumo energético brasileiro deverá saltar, dos 465 TWh empregados em 2017, para 787,5 TWh. É inevitável: para crescer economicamente nos próximos anos, o Brasil terá de gerar mais energia. Então, a melhor forma de fazer isso, até economicamente falando, será investindo em ciência, tecnologia e alternativas energéticas limpas.
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