No dia 16 de maio, Brasília foi palco do maior evento de mobilização quilombola do país, o Aquilombar 2024, com mais de 3,5 mil quilombolas reunidos pela titulação dos seus territórios tradicionais e pela preservação da sua cultura.
O evento, em sua segunda edição, foi organizado pela Coordenação Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) sob o tema ‘Ancestralizando o Futuro’ e contou com palestras, performances culturais, exposições artísticas, feira temática quilombola, rodas de conversa e uma marcha quilombola até o Congresso Nacional.
Milhares de pessoas, cerca de 3,5 mil. Vindas de todo o Brasil. Representando todos os biomas. Para um encontro. O II Ato Aquilombar, organizado pela Coordenação Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).
Bonito de se ver, forte e pronto para a luta. A luta pela terra. Histórica e ancestral. Uma palavra ressoando. Uma palavra-sonho ecoando. Pedindo urgência. Titulação.
O trabalho de muitas mãos para muita gente. A viagem até Brasília. E, de repente, um diverso e múltiplo quilombo, no coração do Distrito Federal. Pessoas de todas as idades, de variados tons de pele preta, cabelos com diferentes texturas e penteados.
Ali, a água, a comida. A música, a dança, o tambor, as culturas. O turbante, a roupa colorida. A bandeira nas costas, nos punhos, no coração.
A formação, a prestação de serviços, a comunicação colaborativa, a venda de produtos, tudo fruto de um processo político necessário e aguerrido, nacional e horizontal.
Na abertura oficial, quatro ministras e ministros. Anielle Franco, da Igualdade Racial, Margareth Menezes, da Cultura, Márcio Macedo, da Secretaria-Geral da Presidência da República e Paulo Rocha, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira.
Parceiros da sociedade civil, a população do Distrito Federal – muita gente como a dizer “estamos juntos”. O Brasil é quilombola!
A memória e a reverência aos que se foram, levados de morte morrida. A denúncia e a cobrança por celeridade na investigação dos que se foram, levados, no entanto, por morte matada. Todos em presença reivindicada porque existente.
O clamor pelo fim do derramamento de sangue. Pela efetividade na regularização das terras destes que povoam o Brasil há tempos, sendo assim, seus povos originários, historicamente invisibilizados e esquecidos pelas políticas públicas, a despeito do que preconiza a Constituição Federal de 1988, como sendo seus direitos – conquistas de quem é responsável pela preservação dos recursos naturais.
A proteção jurídica, o fim da insegurança, das ameaças de morte, dos conflitos armados – pedidos que se liam naqueles olhos tantas vezes cabisbaixos, naquelas mãos e pés calejados pela lida da vida, pela lida da roça e do trabalho braçal.
O pedido que se lia na esperança que todos carregavam. E levavam consigo enquanto marchavam pelo emblemático Eixo Monumental rumo à Esplanada dos Ministérios. Ah, a marcha.
A Gota, parceira histórica da Conaq, se juntou àquele oceano. Um mar negro. Gente em deslocamento. Não em porões de navios. Mas livre e ainda em busca de mais liberdade – a posse efetiva da terra que ocupam e aram, plena de fertilidade.
‘Uma gota no oceano’ participou da produção do II Ato Aquilombar, imbuída de seus valores em prover informação consistente e independente. Toda a nossa equipe ficou disponível, antes, durante e depois do evento, sendo que no dia 16, três Gotas estavam em Brasília, além da correspondente da capital, a de Belém. E uma profissional de Relações Institucionais.
Auxiliamos a coordenação nacional da Conaq na formulação da estratégia de comunicação para o evento.
Trabalhamos nos bastidores. Marchamos junto aos quilombolas.
O ator e militante antirracista, Ícaro Silva, levado por nós, também quis fazer parte, como faz parte da Campanha Nenhum Quilombo a Menos. De cima do trio elétrico ou caminhando, pisando no asfalto junto aos participantes, denunciou a ausência de titulação das terras quilombolas, abrindo espaço para o tema em suas Redes Sociais e contribuindo para a visibilidade da pauta junto a um público diverso.
Dialogamos com importantes jornalistas de todo o Brasil. Com lideranças da Conaq e representantes de territórios quilombolas de todo o país. Em meio à tragédia ambiental ocorrida no Rio Grande do Sul, a Gota foi responsável por ampliar a perspectiva da mídia e tornar possível uma conexão importante de ser feita.
A que mostrava que, entre medidas emergenciais adotadas no estado, era possível ver a cara do racismo, ambiental ou climático, que emergiu da calamidade. Era preciso ter olhos para enxergar.
Mais de 7 mil quilombolas em situação de isolamento, contando apenas com a solidariedade uns dos outros, padecendo sem receber a ajuda humanitária de forma equânime.
O sentimento de frustração dos quilombolas também foi ressoado. Ao final do evento, nenhuma grande conquista ou mudança em relação ao ritmo da titulação das terras foi anunciada.
A importância dos povos quilombolas na preservação do meio ambiente se fez ouvir.
Lideranças da Conaq fizeram sua voz ecoar por meio de denúncias, entrevistas, vídeos exibidos.
As pautas foram abarcadas pelas equipes de jornalismo do G1, na Globo News, da Carta Capital. E continuam ressoando.
Marchamos todos. Para avançar. Em honra ao tema do evento: Ancestralizando o Futuro. Em busca de um presente em que o resistir possa ser substituído pelo bem-viver.