Após tantos meses de restrições por conta da pandemia, no dia 14 de outubro de 2021 realizamos um evento presencial, dividido em duas partes: na primeira, a assembleia de Uma Gota No Oceano, com presença dos membros do conselho da ONG; na segunda, uma roda de conversa com participantes variados. O Brasil ainda não tinha saído da pandemia, mas os números de casos e internações começavam a dar trégua significativa, à medida que a vacinação avançava. Ainda assim, providenciamos testagem prévia para todos os participantes.
O evento foi realizado em formato híbrido: boa parte dos convidados compareceu presencialmente, mas uma parcela deles optou pela participação online (sobretudo os que estavam foram do Rio de Janeiro ou do país). Isso não impediu que a conversa fluísse bem, com ótimos momentos ao vivo e virtuais. Os convidados para expor suas ideias na roda de conversa foram Juma Xipaia, cacica de uma aldeia no Pará, Tasso Azevedo (Mapbiomas), Selma Dealdina, quilombola e secretária administrativa da Conaq, Beto Veríssimo (Imazon) e Marina Silva (ex-ministra do meio ambiente) – os três últimos participaram virtualmente.
Entre os conselheiros, estiveram presentes Miguel Pinto Guimarães (presidente do conselho e nosso anfitrião), Marcia Hirota (SOS Mata Atlântica), Cristiane Costa (ECO/UFRJ), Rachel Biderman (Conservação Internacional), Mariana Roquette Pinto (empresária) e Marcos Prado (cineasta). Virtualmente, compareceram Adriana Ramos (ISA), Ricardo Baitelo (IEMA), Carlos Rittl (conselheiro da Fundação Rainforest Noruega), Leticia Tura (Fase), Roberto Vámos (fotógrafo e consultor) e Sergio Besserman (coordenador do Climate Reality Project Brasil).
Além deles, contamos com presenças ilustres no momento de nossa roda de conversa: os jornalistas Míriam Leitão, Lauro Jardim, André Trigueiro e Miguel Athayde; as atrizes Dira Paes e Regina Casé, o diretor Estevão Ciavatta, o filósofo Francisco Bosco e o ativista ambiental João Fortes.
Os conselheiros acompanharam as exposições de Maria Paula Fernandes, diretora fundadora de Uma Gota No Oceano, sobre as mudanças de foco e equipe da ONG; e Gabi Lapagesse, diretora de relações institucionais, sobre os desafios e feitos da instituição ao longo de 2020 e 2021. Também foram apresentadas novas integrantes da equipe, como a editora de direitos humanos Helena Aragão (presencial) e, virtualmente, a editora de Amazônia Monica Prestes (de Manaus), a repórter Emily Costa (de Boa Vista – RR) e a responsável pelas redes sociais Danielle Amaral (de Lajedo – PE). As meninas estavam inspiradas, e causaram o primeiro momento emocionante da noite. Teve conselheiro indo às lágrimas…
Movimento Gota d’Água, 10 anos
Mas ainda haveria espaço para mais emoção e, sobretudo, informação. Na roda de conversa, começamos celebrando os 10 anos do Movimento Gota d’Água, que deu origem a Uma Gota No Oceano. Em 15 de novembro de 2011, foi lançado um vídeo-manifesto estrelado pelos atores Marcos Palmeira, Isis Valverde, Bruno Mazzeo, Sergio Marone, Juliana Paes, Maitê Proença, Claudia Ohana, Ary Fontoura, Malvino Salvador, Leticia Sabatella, Cissa Guimarães, Guilhermina Guinle, Murilo Benício, Dira Paes, Ingrid Guimarães, Eriberto Leão, Nathália Dill, Elizângela e Carol Castro. Sob direção de Marcos Prado, eles convocavam a população a refletir sobre a cachoeira de dinheiro público que seria investida na controversa hidrelétrica de Belo Monte. Na época, a campanha angariou mais de um milhão de assinaturas em uma semana e entrou para história da Internet, chegando a 22 países.
Dez anos depois, mostramos no evento um resumo do estrago: o mesmo vídeo foi apresentado, com intervenções que detalham, em números, como o impacto foi pior que as piores previsões.
Muito emocionada, Juma pôde contar aos presentes como a hidrelétrica causou danos irreversíveis à sua terra e sua gente. “E para que tudo isso? Para quem? Belo Monte produz a energia mais cara do país, e Altamira se tornou a cidade mais violenta do Brasil”, disse a liderança indígena. “O que a gente tem dentro das comunidades hoje é não somente um índice muito grande de doenças desconhecidas, porque para nós só havia gripe, malária, e hoje têm câncer, diabetes, colesterol alto, obesidade, mas também uma violência absurda contra crianças e mulheres. Esses impactos não são contabilizados como impactos de Belo Monte.”
Os resultados pífios da hidrelétrica fizeram Tasso Azevedo, diretor do MapBiomas, levar uma sugestão irônica à roda de conversa: “Hoje eu sou partidário da ideia de transformar Belo Monte no Parque Nacional das Ruínas de Belo Monte, porque ela não tem absolutamente nenhuma utilidade. É muito mais jogo fechar a usina. Para se ter uma ideia, se você botar painéis solares sobre o canal, vai gerar quatro vezes mais energia do que a hidrelétrica gera hoje”.
Da apatia à empatia
Uma Gota No Oceano vem acompanhando os rumos da agenda ambiental desde 2014, formulando estratégias de comunicação para, juntamente a outros representantes do movimento social, sensibilizar a população. São missões que só podem ser bem executadas, como lembrou a fundadora e diretora Maria Paula Fernandes, a partir do cruzamento de diversos olhares: “Só assim é possível gerar empatia para tirar as pessoas da apatia”, afirmou ela. Beto Veríssimo foi além: “Se não está adiantando pegar as pessoas pela razão, contamos com artistas e contadores de histórias para sensibilizar pela emoção”. E Dira Paes fez uma provocação: “A Gota traz o tempo com ela. O tempo está nos trazendo até aqui e vai nos levar adiante. O que queremos para os próximos 10 anos?”.
Marina Silva lembrou ainda que o Brasil não é o lugar dos problemas, mas de respostas. “Temos agricultura de baixo carbono, fontes renováveis de energia, solar, biomassa, eólica. O Brasil tem uma floresta que trabalha por nós. Seriam necessários dezenas de milhares de Itaipu para bombear a água que a floresta e o vento fazem por nós. Estão destruindo esse grande investimento de bilhões de anos”.
A ex-ministra usou a imagem da gota para passar sua mensagem: “O oceano, de fato, é feito de gotas, mas uma gota contém um oceano inteiro, assim como uma célula contém a Humanidade inteira. Essa gota contém contradições perversas, mas também contém soluções.”