Na semana que antecedeu a Cúpula de Ação Climática das Nações Unidas, em setembro de 2019, lideranças indígenas brasileiras marcaram presença em encontros com congressistas na capital americana, em marchas pelas ruas de Nova York e até em palestras na sede da ONU. E a equipe de Uma Gota no Oceano esteve com eles nesse momento histórico.
Nos dias 16, 17 e 18, a liderança jovem Artemisa Xakriabá, de 19 anos, e Dinamam Tuxá, coordenador-executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), estiveram em Washington. Ao lado da ativista sueca Greta Thunberg, de 16 anos, eles se encontraram com senadores e deputados para explicar sobre como a crise climática afeta as comunidades tradicionais do Brasil.
Na sexta-feira, 20, representantes da Aliança Global de Comunidades Territoriais participaram da marcha que deu início à Greve Global pelo Clima, reafirmando que os povos indígenas querem ter mais voz ativa nas decisões que movem o mundo.
Nos dias 21 e 22 as lideranças indígenas da Aliança Global de Comunidades Territoriais participaram de diversos encontros na Esquina Comunitária, espaço na agenda paralela da ONU. O espaço Helen Mills, em Nova York, foi o ponto de encontro entre indígenas, movimento negro urbano, cientistas, ativistas, produtores de audiovisual e quem mais quisesse ajudar na busca por um planeta mais sustentável. Foram dois dias de conversas e trocas que abordavam desde a violência contra as mulheres nas aldeias e a importância da liderança feminina até os incêndios que destroem a Amazônia.
Nosso filme, “Em nome de quê – O apelo de Beka Munduruku”, transformou o espaço Helen Mills em uma sala de cinema. Ele foi lançado no primeiro dia (21) do encontro com uma plateia de peso: estavam presentes nomes como Carlos Nobre (USP), Tasso Azevedo (MapBiomas), Charles McNeill (ONU), Hanne Strong (Manitou Foundation) e Ilona Szabó (Instituto Igarapé) e Brenda Brito (Imazon). Sua exibição foi acompanhada de uma sessão do filme da Mídia Índia “Ka’a zar ukyze wà – Os donos da floresta em perigo” e de um especial exclusivo da série “Aruanas”, da Rede Globo.
Após a exibição dos filmes, Charles McNeill, assessor sênior de políticas de florestas e clima da ONU Meio Ambiente, participou de uma roda de conversas junto a Sonia Bone Guajajara, da Apib e Cândido Mezua, da Alianza Mesoamericana de Pueblos y Bosques.
No dia seguinte, o filme foi novamente exibido, dessa vez acompanhado de um debate sobre mineração em terras indígenas. Participaram da mesa “Ameaças da mineração: o apelo dos povos atingidos” Marcelo Furtado, diretor-executivo do Instituto Alana e Dinamam Tuxá, coordenador da Apib, entre outros.
Ainda no fim de semana, Sonia Guajajara falou na sede da ONU. “Neste momento, a imagem da Amazônia em chamas está no mundo inteiro. Essa imagem me aterroriza, tenho certeza que a vocês também. Quem queima não são só as árvores, o solo, o ar, os rios; somos também nós, o povo da floresta. Queima a nossa história e as nossas formas de Viver”, clamou Guajajara às lideranças mundiais.
Na segunda-feira, 23, a jovem Greta Thunberg apresentou denúncia ao ao Comitê dos Direitos da Criança das Nações Unidas. No texto, cinco países, entre eles o Brasil, eram acusados de negligência. “Os líderes mundiais não cumpriram suas promessas. Eles prometeram proteger nossos direitos e não fizeram isso”, disse Thunberg durante a Cúpula de Ação Climática, na ONU.
Na terça-feira, 24, as lideranças da Apib convocaram uma entrevista coletiva para rebater as acusações feitas pelo presidente brasileiro durante discurso na Assembleia Geral da ONU. A jovem Artemisa Xakriabá fez seu desabafo: “É muito triste que a gente venha aqui, e passe todos esses dias conquistando o apoio de tanta gente em defesa das florestas, para chegar o nosso próprio presidente e dizer que somos nós, povos indígenas, que estamos incendiando a Amazônia. Essa mentira só me deixa muito triste e envergonhada.”
Foram dias em que as vozes juventude, alimentadas pelo espírito da ancestralidade, fizeram ecoar o pedido por um planeta mais limpo e sustentável.
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