O país do futuro é movido a passado. O Brasil parou nos últimos dias por causa de uma greve de caminhoneiros, que deixou os postos de gasolina sem combustível. O motor a combustão foi inventado em 1866, pelo alemão Nikolaus August Otto. Hoje, enquanto os veículos elétricos começam a tomar as ruas do mundo, o governo brasileiro oferece mais subsídios para a indústria dos combustíveis fósseis. Mesmo em se tratando de eletricidade, estamos atrelados ao século 19: a primeira hidrelétrica brasileira, a Usina de Marmelos, foi inaugurada em 1889. Temos sol e vento de sobra, as tecnologias de produção de energias solar e eólica estão cada vez mais baratas, mas preferimos barrar nossos rios, com consequências quase sempre desastrosas.
Diversificar nossas matrizes energéticas e sistemas de transporte é questão estratégica. Mais ainda, como demonstraram os caminhoneiros: de segurança nacional. Entre as nações de dimensões continentais, o Brasil é o que mais depende de rodovias. Os caminhões transportam 65% de toda a carga do país, enquanto na Austrália essa taxa é de 53%; na China, de 50%; no Canadá, de 43%; nos Estados Unidos, de 32%; e na Rússia, de só 8%. Além de tudo, sai muito mais caro usar caminhões do que trens ou navios. E eles poluem bem mais. Ironicamente, cerca de 15% de toda a carga transportada por estradas é justamente combustível.
Mas nem sempre foi assim: até meados do anos 1920 o Brasil tinha uma malha ferroviária considerável. Hoje, ela está sucateada. Trens de passageiros, só os urbanos. Para cortar grandes distâncias, só de carro, ônibus ou avião. O lobby da indústria petrolífera ganhou a corrida, com voltas de vantagem. O petróleo não serve apenas para mover os veículos, mas também para asfaltar as próprias estradas. É um pacote completo.
O ProÁlcool foi criado há 40 anos como uma grande esperança, mas ficou pelo meio do caminho; também ficou pela estrada o programa de incentivo à produção e ao uso do biodiesel. Atualmente, os derivados de petróleo (gasolina, diesel e querosene de aviação) respondem por mais de 80% de nossa força motriz. Nessa velocidade, quem sabe um dia chegamos ao século 20.
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